Raquítico, briguento, polêmico... Ele marcou para sempre a cultura barsileira!
A poesia de Augusto dos anjos é uma "porrada". Ele promove um atordoamento que não pode ser apagado do olhar do leitor. O que mais surpreende é a crueza do enunciador, ou seja, daquele que fala no texto literário.
Trata-se de um autor com uma fixação mórbida pela condição humana, especialmente no que ela tem de finita, de perecível. Mas, veja bem, o enunciador tem uma fixação pela morte, e é um sujeito materialista!
Assim, o que resta do fenômeno 'morrer' não é o destino da alma, a perpetuação na eternidade, mas a crueza fria e medonha da morte. O decompor-se, o verme, a caliça, os ossos mais que secos, o riso último, patético e encaveirado de quem já foi. Vazio entre os ossos, a igualíssima parecença a que nos reduzimos. Eis o choque!
Psicologia de um Vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme -- este operário das ruínas --
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na finalidade inorgânica da terra!
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