
terça-feira, 23 de março de 2010
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segunda-feira, 22 de março de 2010
Capítulo XI
“Pensem no veredito”, disse o Rei para o júri. “Ainda não, ainda não!”, o Coelho interrompeu com pressa. “Há muito o que fazer antes disso!” “Chame a primeira testemunha”, o Rei disse, e o Coelho Branco assoprou três vezes sua trombeta, chamando a seguir: “Primeira testemunha!” A primeira testemunha era o Chapeleiro. Ele chegou com uma xícara de chá em uma das mãos e um pedaço de pão com manteiga na outra. “Eu peço-lhe desculpas sua Majestade”, ele começou, “por trazer estas coisas, mas eu ainda não tinha terminado meu chá quando fui chamado.” “Você deveria ter terminado”, disse o Rei. “Quando você começou?” O Chapeleiro olhou para a Lebre de Março, que o tinha seguido até à corte de braços dados com o Leirão. “Catorze de março, eu acho que era”, ele respondeu. “Quinze”, disse a Lebre de Março. “Dezesseis”, disse o Leirão. “Escrevam isso” o Rei disse para o júri; e os jurados apressaram-se em escrever as três datas em suas lousas, somando-as e chegando a uma conta maluca que incluía valores em dinheiro. “Tire seu chapéu”, o Rei ordenou ao Chapeleiro. “Não é meu”, respondeu o Chapeleiro. “Roubado!”, o Rei exclamou, virando-se para o júri, que no mesmo instante anotaram o fato. “Eu os tenho para vender”, o Chapeleiro continuou com sua explicação. “Nenhum deles é meu. Eu sou um chapeleiro.” Nesse instante a Rainha colocou seus óculos e começou a encarar o Chapeleiro, que empalideceu e inquietou-se. “Faça seu depoimento”, disse o Rei, “e não fique nervoso, ou eu mandarei executá-lo imediatamente.” Essa frase parece que não encorajou a testemunha, que começou a ficar sobre apenas um pé, alternando, olhando inquietamente para a Rainha. Na confusão acabou mordendo um pedaço da sua xícara de chá ao invés de morder seu pão com manteiga. Exatamente nessa hora Alice teve uma curiosa sensação, que a perturbou bastante até que ela percebesse o que se estava passando: Alice estava começando a crescer novamente. No início ela achou que deveria levantar-se e deixar a corte, mas depois decidiu ficar enquanto houvesse espaço para ela. “Eu queria que você não me espremesse tanto”, disse o Leirão, que estava sentado ao seu lado. “Eu quase não consigo respirar.” “Eu não posso ajudá-lo. Eu estou crescendo.” “Você não tem o direito de crescer aqui”, disse o Leirão. “Não fale bobagens”, respondeu Alice destemidamente, “você sabe que você está crescendo também.” “Sim, mas eu estou crescendo em uma velocidade razoável”, retrucou o Leirão, “e não desse jeito ridículo.” A seguir ele levantou-se com irritação e atravessou a sala até chegar do outro lado da corte. Todo o tempo a Rainha não tirou os olhos do Chapeleiro e, no instante que o Leirão atravessou a corte, ela ordenou a um dos oficiais da corte: “Tragam-me a lista dos cantores no último concerto!”. O coitado do Chapeleiro começou a tremer tanto que seus sapatos escorregaram dos pés. (...)"
João e o pé de feijão
João e o pé de feijão é um conto de fadas de origem inglesa. A versão conhecida mais antiga é a de Benjamin Tabart, publicada em 1807 e popularizada por Joseph Jacobs em 1890, com a publicação de English Fairy Tales. A versão de Jacobs é mais comumente publicada atualmente, e acredita-se que seja mais próxima e fiel às versões orais do que a de Tabart, porque nesta falta a moral que há naquela.João é protegido pela esposa do gigante e consegue fugir dali depois de roubar uma sacola de moedas de ouro. João retorna no dia seguinte e rouba a galinha dos ovos de ouro do gigante e mais uma vez consegue escapar ileso. No terceiro dia, João volta à terra do gigante para roubar uma harpa de ouro. Dessa vez, o gigante persegue João, mas João consegue descer o pé de feijão mais rapidamente o corta com um machado.
João e a mãe eram muito pobres e, para se manterem, contavam apenas com uma vaca, cujo leite vendiam na cidade.
Um dia, porém, a vaca parou subitamente de dar leite, e a pobre mulher, tendo perdido assim a fonte de seu sustento, ficou preocupada e sem saber o que fazer.
João, de sua parte, começou a procurar um emprego, com o qual pudesse ajudar a mãe. Mas os dias foram passando sem que ele arranjasse coisa alguma para fazer. Assim, a única solução que encontraram foi vender a vaca, pois o dinheiro daria pelo menos para viverem por algum tempo.
João logo se ofereceu para ir vender o animal na cidade, mas a mãe, achando que ele não saberia negociar, a princípio não consentiu. Entretanto, porque ela própria poderia sair de casa naquele dia, não teve outro remédio senão concordar com a idéia. Amarrou então uma corda no pescoço da vaca, para que João não a perdesse e, depois de dar muitos conselhos ao filho, deixou-o partir.
E lá se foi João, com destino à cidade.
Quando estava no meio do caminho, encontrou um vendedor ambulante que o cumprimentou muito simpático e perguntou-lhe aonde estava indo com a vaca.
Assim que João contou que estava indo vendê-la na cidade, o homem tirou do bolso um punhado de feijões, muito bonitos e de cores e formatos variados, e mostrou-os ao menino, dizendo que eles eram encantados.
João ficou deslumbrado com a beleza dos grãos e, ao ouvir as palavras do vendedor, seus olhos brilharam de alegria. Morrendo de vontade de possuir os feijões encantados, perguntou ao homem se ele não gostaria de trocá-los pela vaca.
O vendedor concordou prontamente com a troca. E, horas depois, João chegava em casa muito satisfeito, achando que havia feito um excelente negócio. (...)"
sábado, 20 de março de 2010
Frankenstein
O romance obteve grande sucesso e gerou todo um novo gênero de horror, tendo grande influência na literatura e cultura popular ocidental.
Em 1815 o Monte Tambora na ilha de Sumbawa, na atual Indonésia, entrou em erupção. Como consequência, um milhão e meio de toneladas de poeira foram lançadas na atmosfera, bloqueando a luz solar, deixando o ano de 1816 sem verão no hemisfério norte.Neste ano, Mary Shelley, então com 19 anos e ainda com o nome de solteira Mary Wollstonecraft Godwin, e seu futuro marido, Percy Bysshe Shelley, foram passar o verão a beira do Lago Léman, onde também se encontrava o amigo e escritor Lord Byron. Forçados a ficar confinados por vários dias em ambiente fechado pelo clima hostil anormal para a época e local, os três e mais outro hóspede, o também escritor John Polidori, passavam o tempo lendo uns para os outros historias de horror, principalmente histórias de fantasmas alemãs traduzidas para o francês.
Eventualmente Lord Byron propôs que os quatro escrevessem, cada um, uma história de fantasmas. Byron escreveu um conto que usaria em parte mais tarde na conclusão de seu poema Mazzepa. Inspirado por outro fragmento de história de Byron desta época, Polidori mais tarde escreveria o romance “O Vampiro”, que seria a primeira história ocidental contendo o vampiro como conhecemos hoje, e que décadas depois inspiraria Bram Stoker no seu Drácula. Porém, passados vários dias, Mary Shelley ainda não conseguira criar uma história. Eventualmente ela veio a ter uma visão sobre um estudante dando vida a uma criatura. Essa visão tornou-se a base da história de Frankenstein, a qual Mary Shelley veio a desenvolver em um romance, encorajada pelo seu futuro marido.
Desta forma, é curioso notar que o Frankenstein e o Vampiro vieram a ter sua gênese literária na mesma ocasião.
Shelley relatou sua versão da gênese da história no prefácio à terceira edição de seu romance.
Frankenstein é o antigo nome de uma antiga cidade na Silésia, local de origem da família Frankenstein. Mary Shelley teria conhecido um membro desta família, o que possivelmente influenciou sua criação.
sexta-feira, 19 de março de 2010
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segunda-feira, 15 de março de 2010
Adélia Prado
Com licença poéticadomingo, 14 de março de 2010
O Mágico de Oz
O Mágico de Oz (português brasileiro) ou Feiticeiro de Oz (português europeu) é o nome pelo qual é conhecido o personagem fictício dos livros da série sobre a Terra de Oz, do escritor norte-americano L. Frank Baum, que assume o papel de bruxo para dominar e ser reconhecido.O Mágico surge logo no primeiro livro, The Wonderful Wizard of Oz, como morador da Cidade das Esmeraldas, fundada por ele mesmo, na Terra de Oz - um mundo fantástico, povoado por vários povos e dominado por bruxas más a Leste e a Oeste.
Procurado pela garota Dorothy Gale, é revelado seu segredo. Após ter esta derrotado as duas bruxas más, o Mágico tenta regressar ao mundo real com ela, construindo um novo balão - mas este parte sem ela, acidentalmente.
O Mágico retorna a Oz, junto à Dorothy,e um burro no quarto livro da série - embora a Terra de Oz propriamente dita não figure no enredo, já que ambos, junto ao garoto Zeb, um cavalo de charrete e a nova amiguinha de Dorothy, uma gatinha chamada Eureka, enfrentam novos perigos e aventuras num mundo subterrâneo.
Neste volume, Baum revela que Oz trabalhava num circo chamado Bailum & Barney, que além de três picadeiros, tinha um zoológico itinerante.
Porco e Pimenta
"Por um minuto ou dois Alice parou olhando para a casa, tentando imaginar o que fazer a seguir, quando repentinamente um lacaio vestido com libré apareceu correndo vindo da direção da floresta — (ela considerou que ele era um lacaio porque vestia um libré; por outro lado, julgando apenas pelo seu rosto, poderia chamá-lo de peixe) — e bateu com estardalhaço na porta com os nós dos dedos. Quem abriu foi outro lacaio de libré, com uma cara bem redonda, e olhos grandes como um sapo; e ambos os lacaios, Alice notou, tinham os cachos dos cabelos empoados. Ela estava muito curiosa para saber o que se passava e rastejou para fora da floresta para ouvir. O Peixe-Lacaio começou por retirar por debaixo do braço uma enorme carta, quase tão grande como ele mesmo, e a estendeu para o outro, dizendo, num tom solene: “Para a Duquesa. Um convite da Rainha para jogar críquete.” O Sapo-Lacaio repetiu, no mesmo tom solene, apenas mudando a ordem das palavras um pouquinho: “Da Rainha. Um convite para a Duquesa jogar críquete.” Então, ambos fizeram uma reverência, e seus cachos embaraçaram-se. Alice riu tanto disso, que teve que correr de volta para a floresta de medo que eles a tivessem ouvido; e, quando ela espiou novamente, o Peixe-Lacaio já tinha ido embora e o outro estava sentado no chão perto da porta, olhando fixo estupidamente para o céu. Alice dirigiu-se timidamente até a porta, e bateu. “Não adianta nada bater”, disse o Lacaio, “e por dois motivos. Primeiro, porque estou no mesmo lado da porta que você, segundo, porque eles estão fazendo muito barulho lá dentro, ninguém vai ouvi-la.” E certamente havia um barulho muito extraordinário acontecendo lá — constantes uivos e espirros e de vez em quando um enorme barulho de coisa quebrando, como se um prato ou um chaleira estivesse sendo quebrada em pedacinhos. “Por favor, então”, disse Alice, “como eu posso entrar?” “Haveria alguma razão em você bater na porta”, o Lacaio continuou, sem dar importância a Alice, “se houvesse uma porta entre nós. Por exemplo, se você estivesse dentro, você poderia bater, e eu poderia deixar você sair, certo?” Ele olhava para o céu durante todo o tempo que falava, e isso Alice achou decisivamente grosseiro. “Mas talvez ele não possa evitar”, a menina disse para si mesma, “seus olhos são tão perto do fim da cabeça. Mas de qualquer maneira ele poderia responder as perguntas. Como eu posso entrar?”, ela repetiu em voz alta. “Eu tenho que ficar aqui”, o Lacaio retomou, “até amanhã.” Neste momento a porta da casa abriu-se e um prato grande veio voando diretamente até o nariz do Lacaio, machucando seu nariz e terminando por quebrar-se em mil pedaços contra uma das árvores atrás dele. “...ou no outro dia, talvez”, o Lacaio continuou no mesmo tom, como se nada tivesse acontecido. “Como eu posso entrar?”, perguntou mais uma vez Alice, mais alto ainda. “Você ainda quer entrar?”, disse o Lacaio. “Esta é a primeira pergunta, você sabe.” Isso era, sem dúvida: apenas Alice não gostou que lhe dissessem isso. “É realmente espantoso”, murmurou para si mesma, “a maneira com que essas criaturas falam. É o suficiente para deixar qualquer um maluco!” O Lacaio parecia pensar que aquela seria uma boa oportunidade de repetir sua fala, com variações. “Eu devo sentar aqui”, disse ele, “de vez em quando, por dias e dias”. “Mas o que eu posso fazer?” disse Alice. “Nada que você goste”, disse o Lacaio e começou a assoviar. “Oh, não adianta falar com ele,” disse Alice desesperadamente, “ele é completamente idiota!” Ela então abriu a porta e entrou. A porta dava diretamente para uma grande cozinha, que estava cheia de fumaça de um lado ao outro: a Duquesa estava sentada num tamborete de três pernas bem no meio, embalando um bebê. A cozinheira estava inclinada sobre o fogo, mexendo um enorme caldeirão que parecia estar cheio de sopa. “Certamente temos muita pimenta na sopa!”, Alice disse para si mesma, ao mesmo tempo que espirrava. Havia certamente muita pimenta no ar. Mesmo a Duquesa espirrava ocasionalmente; o mesmo acontecia com o bebê, que espirrava e uivava alternadamente, sem um momento de pausa. As únicas duas criaturas na cozinha que não espirravam eram a cozinheira e um grande gato, que estava deitado no centro e sorria de orelha a orelha. “Por favor, a senhora poderia me dizer”, perguntou Alice timidamente, pois não estava muito certa se era educado falar primeiro, “porque seu gato sorri desse jeito?” “Porque ele é um Gato de Cheshire”, respondeu a Duquesa, “é por isso. Porco!” Ela pronunciou a última palavra com tanta violência que Alice deu um pulo; mas ela percebeu no instante seguinte que o chamado era dirigido ao bebê, e não a ela, então armou-se de coragem e tentou novamente: “Eu não sabia que os gatos de Cheshire sempre sorriam, de fato, eu nunca soube que gatos pudessem sorrir.” “Todos eles podem”, afirmou a Duquesa, “e muitos deles o fazem.” “Eu não conheço nenhum”, disse Alice muito polidamente, sentindo-se agradecida por ter conseguido iniciar uma conversa. “Você não sabe muito”, disse a Duquesa, “e isso é um fato.” Alice não gostou do tom da voz da Duquesa, e pensou que seria melhor introduzir um outro tema de conversa. Enquanto ela tentava encontrar um, a cozinheira tirou o caldeirão de sopa do fogo e começou a atirar sobre a Duquesa e o bebê todos os objetos que via pela frente — os atiçadores de fogo vieram primeiro, depois uma chuvarada de panelas de molho, pratos e louças. A Duquesa não ligava para nada, mesmo quando um dos utensílios a atingia: e o bebê estava uivando tanto, que era impossível dizer se os projéteis machucavam ou não. “Oh, por favor, veja o que a senhora está fazendo!”, gritou Alice, pulando de um lado para outro com agonia e terror. “Oh, lá vai seu precioso nariz” pois um enorme caçarola voou bem perto do bebê, e por muito pouco não o carregou. “Se cada um se preocupasse com seus próprios negócios”, disse a Duquesa, rosnando roucamente, “o mundo giraria mais rápido do que gira.” “O que não seria uma vantagem”, respondeu Alice, que sentia-se muito feliz pela oportunidade de mostrar um pouco do seu conhecimento. “Eu fico pensando que trabalho deve ser fazer o dia e a noite! A senhora vê, a terra leva vinte e quatro horas para girar em torno do seu eixo...” “Falando em eixos”, disse a Duquesa, “cortem a cabeça dela!” Alice olhou de soslaio ansiosamente para a cozinheira, para ver se ela iria seguir a sugestão; mas a cozinheira estava muito ocupada emxendo a sopa e parecia não ouvir nada; então, ela continuou: “Vinte e quatro horas, eu acho, ou seriam vinte? Eu...”(...)"Rosa Branca e Rosa Vermelha
No começo da história, o atrito das duas é constante. Depois do fiasco envolvendo João e Barba Azul, ela acabou por se redimir e se tornou a administradora da Fazenda.
Atualmente mantém uma relação amigável com a irmã.
No Brasil, o conto estrelado por Rosa Vermelha é mais conhecido como “Rosa-Branca e Rosa-Vermelha”, apesar de seu nome original ser “Snow-White and Rose-Red” (Branca de Neve e Rosa Vermelha).

"Uma pobre viúva vivia isolada numa pequena cabana. Em seu jardim havia duas roseiras: em uma florescia rosas brancas, e, na outra, rosas vermelhas. A mulher tinha duas filhas que se pareciam com as roseiras: uma chamava-se Rosa-Branca; a outra Rosa Vermelha. As crianças eram obedientes e trabalhadeiras. Rosa-Branca era mais séria e mais meiga que a irmã. Rosa Vermelha gostava de correr pelos campo: Rosa-Branca preferia ficar em casa ajudando a mãe. As duas crianças amavam-se muito e quando saíam juntas, andavam de mãos dadas…
Elas passeavam sozinhas na floresta, colhendo amoras. Os animais não lhes faziam mal nenhum e se aproximavam delas sem temor. Nunca lhes acontecia mal algum. Se a noite as surpreendia na floresta elas se deitavam na relva e dormiam.
Uma vez, passaram a noite na floresta e, quando a aurora as despertou, viram uma linda criança, toda vestida de branco sentada ao seu lado. A criança levantou-se, olhou com carinho para elas e desapareceu na floresta.
Então viram que tinham estado deitadas à beira de um precipício e teriam caído nele se houvessem avançado mais dois passos na escuridão. Contaram o fato à mãe que lhes disse ser provavelmente o anjo da guarda que vigia as crianças.
As meninas mantinham a choupana da mãe bem limpa. Durante o verão, era Rosa-Vermelha que tratava dos arranjos da casa e no inverno, era Rosa-Branca. Á noite, quando a neve caía branquinha e macia, Rosa-Branca fechava os ferrolhos da porta.
À noite sentavam perto da lareira e enquanto a mãe lia em voz alta num grande livro as mãozinhas das meninas fiavam; aos pés delas, deitava-se um cordeirinho, e atrás, em cima do poleiro, uma pomba muito branca dormia com a cabeça entre as asas.
Uma noite, quando estavam assim tranqüilamente, ouviram bater à porta e a mãe mandou Rosa-Vermelha abrir a porta pois devia ser alguém procurando abrigo.
Ao abrir a porta Rosa-Vermelha … um enorme urso que meteu a grande cabeça … através da abertura da porta. Ela soltou um grito e correu para o quarto; o cordeirinho pôs-se a balir, a pomba a voar, e Rosa-Branca se escondeu atrás da cama da mãe. (...)"
segunda-feira, 8 de março de 2010
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"— Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.Charles Baudelaire
Nasceu em Paris a 9 de abril de 1821. Estudou no Colégio Real de Lyon e Colégio Louis-Le-Grand (de onde foi expulso por não querer mostrar um bilhete que lhe foi passado por um colega).
Em 1840 foi enviado pelo padrasto, preocupado com sua vida desregrada, à Índia, mas nunca chegou ao destino. Pára na ilha da Reunião e retorna a Paris. Atingindo a maioridade, ganha posse da herança do pai. Por dois anos vive entre drogas e álcool na companhia da mulata Jeanne Duval. Em 1844 sua mãe entra na justiça, acusando-o de pródigo, e então sua fortuna torna-se controlada por um notário.
Em 1857 é lançado As flores do mal contendo 100 poemas. O livro é acusado no mesmo ano, pelo poder público, de ultrajar a moral pública. Os exemplares são presos, o escritor paga 300 francos e a editora 100, de multa.
Essa censura se deveu a apenas seis poemas do livro. Baudelaire aceita a sentença e escreveu seis novos poemas "mais belos que os suprimidos", segundo ele.

Mesmo depois disso, Baudelaire tenta ingressar na Academia Francesa. Há divergência, entre os estudiosos, sobre a principal razão pela qual Baudelaire tentou isso. Uns dizem que foi para se reabilitar aos olhos da mãe (que dessa forma lhe daria mais dinheiro), e outros dizem que ele queria se reabilitar com o público em geral, que via suas obras com maus olhos em função das duras críticas que ele recebia da burguesia.
Morre em 1867, em Paris, e seu corpo está sepultado no Cemitério do Montparnasse, em Paris.
CAPÍTULO XXXII / OLHOS DE RESSACA
"Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada." Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me."((Dom Casmurro - Machado de Assis))
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domingo, 7 de março de 2010
Chapeuzinho Vermelho
Fonte inesgotável de questionamentos literários, o conto Capuchinho/Chapeuzinho Vermelho, já se deu a leituras que abrangem da psicanálise, da paródia e da paráfrase, ao mundo das histórias em quadrinhos. Antes de Charles Perrault, a mitologia grega possuía seu modo particular de transmiti-la, e depois sofreu alterações por Hans Christian Andersen e pelos Irmãos Grimm. Os séculos XX e XXI, trouxeram ainda novas versões: a irreverência e o deboche em Dalton Trevisan, os desenhos de Maurício de Sousa atraindo o público mais infantil, Neil Gaiman impressionando seus leitores ao expôr uma Capuchinho/Chapeuzinho inclinada para o mal, e Deu a louca na Chapeuzinho, filme de 2005 com paródia dos personagens.
Guimarães Rosa, em Fita verde no cabelo, traz uma versão para adolescentes. Ela vai desde o fluxo das fantasias de uma jovem até o momento em que se defronta com a morte de sua avó, sendo desta forma, obrigada a enfrentar seus medos, angústias e solidão. Chico Buarque faz uma paródia, Chapeuzinho Amarelo, para o público pré-adolescente.
Em outra versão ainda mais antiga, a chapeuzinho faz um strip-tease pro lobo (que as vezes era representado por um lobisomem ou um ogro) para assim poder fugir enquanto ele esta "distraído". Existe ainda uma versão mais bizarra ainda da história, onde o lobo estripa a vovó e obriga a chapeuzinho a jantá-la com ele. A chapeuzinho, que não é besta, diz que precisa ir ao banheiro (que naquela época ficava do lado de fora das casas) e fugia. Percebam que, em todas as versões que citei, o lobo sempre se dá bem no final, de uma forma ou de outra.
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Conselho de uma lagarta
"A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta. “Quem é você?”, perguntou a Lagarta. Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: “Eu — eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento — pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então. “O que você quer dizer com isso?”, perguntou a Lagarta severamente. “Explique-se!” “Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora”, respondeu Alice, “porque eu não sou eu mesma, vê?” “Eu não vejo”, retomou a Lagarta. “Eu receio que não posso colocar isso mais claramente”, Alice replicou bem polidamente, “porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso.” “Não é”, discordou a Lagarta. “Bem, talvez você não ache isso ainda”, Alice afirmou, “mas quando você transformar-se em uma crisálida — você irá algum dia, sabe — e então depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá sentir-se um pouco estranha, não irá?” “Nem um pouco”, disse a Lagarta. “Bem, talvez seus sentimentos possam ser diferentes”, finalizou Alice, “tudo o que eu sei é: é muito estranho para mim.” “Você!”, disse a Lagarta desdenhosamente. “Quem é você?” O que as trouxe novamente para o início da conversação. Alice sentia-se um pouco irritada com a Lagarta fazendo tão pequenas observações e, empertigando-se, disse bem gravemente: “Eu acho que você deveria me dizer quem você é primeiro.” “Por quê?”, perguntou a Lagarta. Aqui estava outra questão enigmática, e, como Alice não conseguia pensar nenhuma boa razão, e a Lagarta parecia estar muito chateada, a menina despediu-se. “Volte”, a Lagarta chamou por ela. “Eu tenho algo importante para dizer!” Isso soava promissor, certamente. Alice virou-se e voltou. “Mantenha a calma”, disse a Lagarta. “Isso é tudo?”, retrucou Alice,engolindo sua raiva o quanto pôde. “Não”, respondeu a Lagarta. Alice pensou que poderia muito bem esperar, já que não tinha nada para fazer, e talvez no fim das contas ela poderia dizer algo que valesse a pena. Por alguns minutos a Lagarta soltou baforadas do seu cachimbo sem falar; afinal, ela descruzou os braços, tirou o narguilé da boca novamente e disse: “Então você acha que mudou, não é?” “Temo que sim, Senhora”, respondeu Alice. “Não consigo lembrar das coisas como antes — e não mantenho o mesmo tamanho nem por dez minutos!” “Não consegue lembrar que coisas?”, continuou a Lagarta. (...)"*

Clarice Lispector
“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez. Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.Pois juro que a vida é bonita.”Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade.
“Madama Carlota havia acertado tudo. (...) Até para atravessar a rua ela era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma, isso significava uma perda que valia por um ganho. Assim como havia sentença de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida. Tudo de repente era muito e muito e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar. Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria.Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora, é já, chegou minha vez! E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a (...)”

